Exposição fotográfica: O esplendor da vida submarina

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Fotografia I – Serranus cabrilla (Linnaeus, 1758) sobre fundo de Paramuricea clavata (Risso, 1826), Farilhões | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: nos Farilhões, parte da Reserva Natural das Berlengas, encontra-se uma das mais espectaculares paredes de coral na nossa costa. Não será a maior nem com as espécies mais raras, mas é, a meu ver, das mais impressionantes. Esta foto em particular foi feita no Farilhão do Rabo d’Asno, um rochedo aparentemente desinteressante à superfície mas que revela todo o seu esplendor numa parede vertical que desce um pouco abaixo dos 30 metros e está coberta por colónias de gorgónias, em particular Paramuricea clavata, o que lhe dá um tom rosado. Estas colónias providenciam refúgio a inúmeras outras espécies e esta pequena garoupa, numa atitude aparentemente defensiva, colocou-se em pose com o fundo perfeito. E mais tarde pude reparar na pequena medusa a flutuar à sua frente.


Fotografia II – Gobiusculus flavescens (Fabricius, 1779), Berlengas | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: estes pequenos góbios, cobertos por escamas iridescentes, possuem uma particularidade: em vez de viverem nos fundos rochosos, como os seus parentes mais próximos, nadam no meio da coluna de água em cardume. Por essa razão, e dado o seu pequeno tamanho, são muito difíceis de fotografar. Mas nas Berlengas parecem ser menos tímidos quando a câmara fotográfica se aproxima.


Fotografia III – Spondyliosoma cantharus (Linnaeus, 1758), Sesimbra| Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: nalguns pontos do Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, parte do Parque Natural da Arrábida, os cardumes de choupas nadam frequentemente à volta dos mergulhadores. Por vezes, talvez procurando “expulsar” aqueles estranhos intrusos, acompanham-nos na sua subida à superfície quando terminam a imersão. Esta subida não é contínua e, mesmo para os mergulhadores recreativos, inclui uma paragem de segurança para reduzir o risco de doença descompressiva. Para mim, essa paragem é aproveitada para rever as fotografias feitas nesse mergulho e descartar as de má qualidade. Mas, neste mergulho, as choupas não me largavam e tive de aproveitar a oportunidade.


Fotografia IV – Gobius xanthocephalus (Heymer & Zander, 1992), Sesimbra| Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: o caboz-de-cabeça-amarela é um dos góbios mais espectaculares da nossa costa. Nadam rapidamente junto ao fundo em curtas distâncias, nunca se afastando das rochas onde se possa refugiar. Mas não resistem ao impulso de defender o seu território, independentemente do tamanho do intruso, colocando-se à entrada das suas tocas apoiados nas barbatanas peitorais. As cabeças amarelas surgem assim aos mergulhadores como pequenas pepitas de ouro espalhadas entre as rochas do fundo.


Fotografia V – Lepadogaster lepadogaster (Bonnaterre, 1788); Alpertuche, Arrábida| Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: eis um pequeno peixe que, apesar de ser muito comum, é pouco visto. Esconde-se debaixo de pedras a pequenas profundidades, muitas vezes expostas na maré vazia, às quais se agarra com uma ventosa ventral.


Fotografia VI – Scyliorhinus canicula (Linnaeus, 1758), Cascais| Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: não haja dúvida: a pata-roxa é um tubarão. E é, provavelmente, a espécie de tubarão mais comum da costa de Portugal. Decerto qualquer pessoa que se tenha aventurado a vasculhar os detritos arrastados para a areia pela maré já encontrou as cápsulas dos ovos desta espécie. No entanto, ver o animal ao vivo, no seu meio, é um raro evento. Felizmente, uma pequena área ao largo do Farol da Guia, em Cascais, é regularmente visitada pelas fêmeas que ali depositam os seus ovos, tornando o local um ponto de visita obrigatório para os mergulhadores da zona que assim podem ver estes tubarões “cara-a-cara”. Literalmente… Infelizmente, os pedidos para criação de um estatuto de proteção para o local foram descartados, eventualmente por causa da perturbação que causaria na actividade piscatória e no seu impacto na economia local. Tendo em conta que cada mergulhador paga, por imersão, várias vezes o valor de cada tubarão atinge na lota, que esta espécie pode viver mais de uma dezena de anos, que é possível mergulhar neste local quase dois terços dos dias do ano, que cada barco leva em média 10 mergulhadores, qualquer criança a começar as suas aventuras pela aritmética pode demonstrar que cada tubarão protegido vale dezenas de milhares de vezes mais vivo do que morto. Até tirar esta fotografia, fiz pelo menos três mergulhos neste local apenas com este objectivo em vista. E o mesmo se passava com os restantes mergulhadores a bordo.


Série de olhos

Descrição: os olhos são órgãos fascinantes. Nós, humanos, achamo-los importantes como sentido mas também como forma de nos relacionarmos, daí usarmos a expressão olhos nos olhos. Por isso, ficamos fascinados pelos olhos dos outros animais, como se tivéssemos a ilusão de que, através deles, conseguimos compreendê-los melhor, talvez até comunicar. É então que descobrimos que podem ter formas estranhas, que não verão melhor ou pior do que nós: verão de forma “diferente”.


Fotografia IX – Octopus vulgaris (Cuvier, 1797), Sesimbra| Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: entre os animais que encontramos mais frequentemente debaixo de água, os polvos serão provavelmente os mais inteligentes. E cada polvo é diferente, tem personalidade, uns mais curiosos, outros mais tímidos, uns temerosos e outros assustadiços. Este em particular, tem uma história. Eu estava a fotografar pequenas lesmas marinhas (nudibrânquios) quando senti algo a envolver-me o braço e a puxar lenta mas firmemente. Olhei para o lado e vi um grande polvo, talvez no fim da sua curta vida, a largar o meu braço e a mover-se para a minha frente. E parou. Nesse momento, alterei a configuração da câmara e a posição dos flashes e tirei duas fotografias. E tão lentamente como chegou, começou a afastar-se. Fiquei com a nítida sensação de que me tinha pedido para o fotografar.


Fotografia X – Halocynthia papillosa (Linnaeus, 1767), Berlengas| Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: as ascídias são o melhor exemplo de que as aparências iludem. Por detrás do aspecto simples de um animal que apenas filtra a água que entra por um sifão e sai pelo outro, está um cordado, parente muito próximo dos vertebrados como nós, humanos. Algumas espécies são coloniais, enquanto outras, como esta, cada indivíduo desenvolve-se isoladamente. Embora se possam encontrar em toda a costa, na Reserva Natural das Berlengas há uma grande diversidade.


Fotografia XI – Astrospartus mediterraneus (Risso, 1826), Farilhões | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: este grande equinoderme, parente dos ouriços, estrelas e pepinos-do-mar, é raramente visto pelos mergulhadores recreativos devido às profundidades a que normalmente vive e a ser mais activo durante a noite. O seu aspecto estranho e grandes dimensões (pode atingir uns impressionantes 80 cm de envergadura) podem levar os observadores mais incautos a confundirem-no com os corais nos quais frequentemente se apoiam. No entanto, nalgumas áreas mais sujeitas a eventos de upwelling (afloramento de águas profundas, mais frias e ricas em nutrientes e oxigénio), estes animais ascendem a profundidades mais acessíveis. É o caso desta fotografia, tirada nos Farilhões, que se situam na orla do Canhão da Nazaré, durante o dia e a apenas 10 metros de profundidade.


Fotografia XII – Simnia spelta (Linnaeus, 1758), Sesimbra| Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: o nome destes pequenos gastrópodes alude à forma da sua concha, semelhante a um grão de trigo espelta. Mas se a sua concha pode ser encontrada ocasionalmente nas praias, o animal vivo já é mais difícil de detectar devido ao mimetismo que apresenta com a sua presa. Neste caso, dois indivíduos estão a alimentar-se da gorgónia Leptogorgia sarmentosa e cobrem a concha branca com o manto, que é da mesma cor que a gorgónia.


Fotografia XIII – Felimida purpurea (Risso, 1831), Cabo Espichel | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: uma das espécies mais comuns de nudibrânquio da nossa costa a alimentar-se da esponja que está por baixo das anémonas-jóia Corynactis viridis. Como acontece com a maior parte das espécies destas lesmas marinhas, possuem cores contrastantes que servem de aviso para os potenciais predadores: o manto encerra glândulas que produzem substâncias tóxicas ou que dão mau sabor.


Fotografia XIV – Felimare fontandraui (Pruvot-Fol, 1951), Berlengas | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: após o acasalamento, os nudibrânquios fazem a postura dos ovos numa banda gelatinosa em espiral. Na maior parte das espécies, as larvas ficam à deriva na coluna de água durante algumas semanas enquanto são arrastadas para outros locais. No entanto, algumas possuem desenvolvimento directo, isto é, dos ovos eclodem pequenas lesmas já formadas que partem logo à procura de comida. Esta espécie em particular alimenta-se de esponjas, e embora seja muito comum em todo o país, é particularmente abundante na Reserva Natural das Berlengas.


Fotografia XV – Luisella babai (Schmekel, 1972), Portimão | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: alguns nudibrânquios não possuem defesas químicas mas “roubam” as defesas dos animais de que se alimentam, que são hidrozoários no caso desta espécie. Nudibrânquios como este possuem processos que crescem um pouco por todo o corpo (cerata) e que têm uma tripla função: aumentando a superfície de contacto com a água, servem para efectuar trocas gasosas; como a glândula digestiva se estende no seu interior, serve para aumentar a eficácia do sistema digestivo sem precisar de aumentar a dimensão do animal; as células urticantes das presas são armazenadas na ponta das cerata que, através de autotomia, se tornam assim em verdadeiras armas de defesa contra possíveis predadores. Durante vários anos, considerou-se que esta espécie vivia exclusivamente no Mediterrâneo. Hoje conhecem-se registos que vão do Golfo da Biscaia ao Senegal e está no “top 5” das espécies de nudibrânquio mais facilmente observadas em Portugal.


Fotografia XVI – Galathea strigosa (Linnaeus, 1761), Sesimbra | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: embora relativamente comuns, estes crustáceos são raramente observados pelo facto de viverem em fendas e buracos na rocha, apenas se aventurando durante a noite ou dias mais escuros de Inverno, como foi este caso. Possuem longas pinças com as quais capturam camarões e outras presas que passam por perto mas a característica mais chamativa é o contraste de vermelhos e azuis que apresentam no corpo. Nalguns locais chamam-lhes “caranguejo-diabo”, mas o nome não poderia ser mais desadequado, até porque não são verdadeiros caranguejos. O nome do género, Galathea, alude a uma das nereides, ninfas da mitologia grega. Já o epíteto strigosa é uma referência às numerosas cerdas que cobrem as pinças e patas. Mas se olharmos bem, teria sido muito mais simpático dar-lhe um nome que reflectisse a sua coloração extravagante de verdadeira “ninfa maquilhada”.


Fotografia XVII – Periclimenes sagittifer (Norman, 1861), Tavira | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: todos decerto estarão familiarizados com anémonas. E a Anemonia viridis é uma das mais comuns que podemos encontrar na nossa costa, mesmo nas poças deixadas pelas marés. Mas o poucos terão reparado é que muitas vezes possuem um pequeno comensal que vive sob os seus tentáculos, buscando aí protecção. Para além dos azuis dos seus apêndices, possuem largas manchas rosadas, uma das quais no dorso em forma de seta e que lhe valeu o nome sagittifer: porta-setas. É simplesmente um dos mais espectaculares camarões que podemos encontrar em Portugal, do Algarve, onde este foi fotografado, ao Minho.


Fotografia XVIII – Pelagia noctiluca (Forsskål, 1775), Baleal | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: entre as várias espécies de alforrecas que ocorrem normalmente na nossa costa, muitas vezes causando alarmes desproporcionais, esta será das mais pequenas. As suas células urticantes podem provocar reacções mais ou menos dolorosas, o que aliado ao facto de poderem surgir em grandes números em simultâneo pode parecer assustador. Esta fotografia, tirada no Baleal, perto de Peniche, foi tirada durante uma dessas “marés gelatinosas”. Os finos tentáculos urticantes com perto de um metro de comprimento são praticamente invisíveis debaixo de água e as fotografias tiradas neste mergulho carregam o custo de algumas picadas. Mas nada que justificasse a interdição da praia ou uma reportagem na televisão. Parafraseando a lição que todos os jornalistas conhecem, “a alforreca que picou o mergulhador” não é notícia, notícia seria “o mergulhador que picou a alforreca”.


Fotografia XIX – Polycera faeroensis Lemche, 1929, Cabo Espichel | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: todos os nudibrânquios são hermafroditas, agindo simultaneamente como fêmea e macho durante o acasalamento. Por vezes, este processo inicia-se com uma autêntica dança em que os animais rodam em torno um do outro expondo o seu lado direito, onde se encontra a abertura genital. Esta espécie, por ter o corpo praticamente transparente, permite ter uma perspectiva singular do acasalamento.


Fotografia XX – Prostheceraeus roseus Lang, 1884, Berlengas | Autoria: © João Pedro Silva

Descrição: entre as planárias da nossa costa, esta espécie é bastante comum e facilmente detectável pelas suas cores. Movem-se com relativa rapidez entre o substrato em busca de presas ou parceiros, podendo mesmo nadar ondulando pela água para uma fuga rápida a um potencial predador.


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5 thoughts on “Exposição fotográfica: O esplendor da vida submarina

  1. Uma maravilha. A sensibilidade que João Pedro Silva consegue colocar em cada fotografia faz-nos esquecer, por momentos, que estamos a olhar apenas para uma fotografia; consegui sentir, ao vivo e a cores, o próprio original.
    Perfeita a articulação entre a imagem e o texto.
    Obrigado

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  2. Excelente visão do mundo subaquático tão perto de nós, com fotos de muita qualidade e uma clara explicação das espécies e das características.

    Parabéns ao João Pedro Silva por este trabalho e um obrigado pela sua divulgação.

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